8/14/2011

"Sonho que se sonha junto é realidade"

Eles me prometeram o paraíso. O sonho de obter as respostas que tanto afligem nosso ser existencial. Eles fizeram do nosso sonho uma inenarrável realidade próxima. E sobre esses sonhos construímos amizades que julgávamos eternas, redes de relacionamento comerciais, namoramos e casamos com outros sonhadores, aceitamos a definição dada por eles do que seria a verdadeira paz mental, do que era lícito e ilícito, do que era moral e imoral, do que era amor e “ódio divino”.

E um dia descobrimos que o “sonho” era menos que um sonho comum, era diferente de uma utopia saudável. “E tudo ficou tão claro, o que era raro ficou comum, como um dia depois do outro, como um dia, um dia comum” (Terra de Gigantes – Humberto Gessinger). Descobrimos que o preço que pagávamos por esse sonho era alto demais, reprimia, machucava, o sapato que tínhamos de usar era muitos números aquém do que precisávamos para ter proteção junto com conforto.

E um belo dia você acorda do sonho e não sabe se continua fingindo estar dormindo ou se acorda e desperta também os outros. Não sabemos se os outros querem ser acordados. Tirar pessoas de seus sonhos pode ser algo muito cruel. Foi por isso que desde certo tempo entendi que não mais me cabe ajudar a quem está dentro de uma religião, a qual eu pertenci por anos a fio, e tem medo de enfrentar as agruras que implica saber a verdade sobre “a verdade”.

Fui testemunha de Jeová e lá dentro conheci pessoas boas, puras de intenções, pessoas muito bonitas interiormente que devem isso à sua natureza e criação ou qualquer outro motivo totalmente alheio à doutrinação desta fria igreja. Todas as pessoas, mesmo as que creio gostarem de mim, que tento explicar o que representa para ex-testemunhas o rompimento com a seita, demonstram alguma empatia e solidariedade ao me ouvirem, mas no final noto que eles jamais conseguirão entender plenamente, a não ser que também tenham vivido semelhante  experiência “divina”.

Refiro-me à organização das Testemunhas de Jeová como uma seita. Todos os direitos de representá-la, aprovar, revogar ou criar novos “entendimentos” das passagens bíblicas pertencem à Watchtower of Bibles and Tracts, uma empresa que possui um patrimônio incrivelmente grande. Apesar deles se sentirem ofendidos e “criminalizados” quando são chamados de seita, isso por si só não faz com que deixem de sê-la. Entendo por seita os grupos que misturados às “leis de Deus” possuem doutrinas e dogmas originados explicitamente de algum líder que teve uma “revelação do Espírito Santo” ou qualquer outra entidade invisível. Os Mórmons, TJ´s e outros. Pode até ser (quem sabe) que alguma entidade metafísica tenha entrado em contato com tais “iluminados” mas daí a ter certeza que eram de origem “divina” já são outros 500. Basicamente as Testemunhas de Jeová tem as suas peculiaridades mais distintas advindas de interpretações de passagens da bíblia em conjunto com acontecimentos históricos explicadas por um grupo seleto e limitado de homens que constituem o tal “Escravo Fiel e Discreto”, a saber, o Corpo Governante com endereço na sede em Brooklin, USA.

Vou tentar simplificar como funciona a lógica da seita, que não difere de muita da usada por tantas outras. Ingredientes:Uma profecia bíblica, um evento de importância histórica mundial e um sistema de contagem de datas, que em alguns casos nos obriga a fazer um contorcionismo mental, para “provar” que tal evento cumpriu uma das profecias e que por isso temos que estar atentos aos “sinais” de cumprimento de outras mais determinantes. Se na tal data prevista nada ocorrer, foi porque as pessoas se precipitaram em entender errado, nunca eles assumem que ELES que construíram um profecia errônea. Ninguém pode contradizer a explicação do “Escravo Fiel e Discreto” sob pena de cometer “apostasia” contra os ensinos passados “pelo Espírito Santo”, mas se der errado... aí “TODOS NÓS” nos enganamos. Deu  pra sacar como isso é engenhosamente manipulado para tocar a seita com seus dogmas e profecias fajutos?

Quer saber mais sobre essa “religião”? Fiz um site quando saí de lá: www.torredevigia.cjb.net . Essa foi minha contribuição para quem realmente quer saber o outro lado das história de pessoas que foram de lá e quando acordaram para os absurdos que ocorrem foram “demonizadas” pelos líderes.

E desde já aviso que não vou responder aos “soldadinhos” TJ que “trollan” meus posts quando alguém comente o “pecado” de falar contra a “Santa Organização” e seus velhinhos hipócritas e que um dia pagarão por tantas vidas destruídas e tantas mortes de crianças e adultos que recusaram transfusões de sangue por “livre e espontânea” vontade somada ao medo de serem expulsos da organização caso optassem por receber o sangue. Dúvidas sinceras me interessam.

Abraço a todos.

Foto do site: http://www.testemunha.com.br

7/26/2011

We dont need no thought control

Apesar de andar extremamente tenso e preocupado com uma série de coisas pessoais sempre tento relaxar revendo algo do passado em termos musicais ou cinematográficos. Sou saudosista, fato. Às vezes acho que nasci saudosista.



Mas enfim, me peguei revendo pela enésima vez o filme THE WALL do Pink Floyd. Adoro a parte de “Another Brick in the Wall” quando o professor humilha o garoto na sala de aula lendo em voz alta seu poema que é justamente um trecho da música “Money” do anterior “The Dark Side of the Moon”. A letra dessa música diz muito sobre estes traumas que carregamos da infância. Coisas mal resolvidas na tenra idade significam gastos com analistas, drogas lícitas e/ou ilícitas.

No início vemos um comboio de trem lotado de crianças todas com as mesmas máscaras bizarras, parecendo o Jason de “Sexta-feira 13”, e sendo levadas para a escola no mesmo estilo que os nazistas conduziam os judeus aos campos de concentração. É interessante como essa necessidade horrível que temos de querer ser como a maioria “normal” é imposta nazistamente na escola. Uniformes, filas pro recreio, filas pra qualquer coisa, a resposta “certa” é sempre padronizada, uniforme, intransitiva. Pelo menos eram assim as escolas da minha época de garoto. Espero que tenha mudado.

Mas o clipe prossegue mostrando um professor durão, velho, mau humorado e sarcástico que expõe os alunos ao escárnio com extrema autoridade “mas na cidade sabia-se muito bem que quando eles chegavam em casa a noite, suas esposas gordas e psicopatas podiam humilhar-lhes infernizando cada polegada de suas vidas”. Perfeito. O que não falta nessas salas de aula da vida são professores frustrados, castrados, cheios de problemas e traumas, que tentam bancar o ditadorzinho de forma militar ou sob uso de desonestidade intelectual, coisa não muito complexa tendo em vista o nível de compreensão política, história e filosófica da maioria dos nossos universitários.

The Wall ainda é muito atual. Fala dentre outros temas, de liberdade (a falta dela), revolução, excesso de autoridade, paternalismo estatal, falta de ideais, pensamento uniforme dentre outros temas. Eu tenho visto coisas no Brasil que começam a me preocupar no que diz respeito à liberdade de pensamento e uso do aparato do Estado. Depois escrevo sobre isso.

7/24/2011

Amy Winehouse morreu, os urubus moralistas voam ao redor do corpo

Por Caíque Santos

A "alcoólatra", "drogada", "viciada" da Amy morreu. Também, quem manda usar drogas? Bem feito! Por mais chocante que seja o que acabei de escrever, essa mensagem horrorosa vem travestida (outras sem disfarces) em alguns comentários das redes sociais sobre a morte da garota. Sim, uma pessoa, além de ser um fenômeno, uma mulher de voz impressionante.

É até enojante, para os mais sensíveis, como alguns "espiritualizados" demonstram um certo contentamento quando vêem "a conseqüência do pecado" [a morte] chegando para dar uma lição aos "drogados". Ligar uma morte às drogas parece torná-la uma conseqüência merecida para quem tem a "doença" de ter "desvio moral". Sim, porque quem usa droga, na visão destes indefectíveis paladinos do que é correto, tem déficit de valores morais.

Qualquer pessoa com um pouco de vivência e senso de humanidade notava através da imprensa que a mulher vivia um inferno pessoal de grandes proporções. Isso justifica usar drogas como válvula de escape? Não! Claro que não, mas é este o ponto! Quem hoje pode se arvorar ao direito de determinar o que é "justificável" na vida pessoal de cada um? Era doença, dependência ou "safadeza"?

Pra mim a Amy Winehouse não deixa a vida como "coitadinha", muito menos como "drogada" e sim apenas mais uma entre milhões que perdeu a batalha contra a depressão, o inferno astral, as dores do mundo e todas estes "espinhos da carne" que tantas vezes nos faz também termos nosso momento "Amy Winehouse". Não creio que ela e tantos outros "heróis que morreram de overdose" sonharam em ter uma morte, seja ela "injusta" ou "merecida".

Não sei mesmo quem vive mais anestesiado e fora da realidade, o "drogado" ou os que "têm juízo" e utilizam este mais para julgar do que sentir. O abuso de QUALQUER droga (religião, inclusive) é CONSEQUÊNCIA de desajustes emocionais, psicológicos, existenciais, etc. Ao mesmo tempo passa a ser CAUSA destes mesmos alimentando um sistema corrosivo de culpas que gera mais dor e demanda mais "anestésicos". É um triste espiral de sentimentos conflituosos difícil de analisar tendo por viés as tais "virtudes morais", seja lá o que este conceito signifique em uma sociedade cristã tão doente e hipócrita.

2/01/2011

A Cama na Varanda: Erotismo ou pornografia?

Achei interessante, acho que discordo de algumas coisas, mas depois comento.

A Cama na Varanda: Erotismo ou pornografia?
POR REGINA NAVARRO LINS

Rio - A maioria das pessoas acredita existir grande diferença entre erotismo e pornografia. Eu não tenho tanta certeza. Mesmo se houver alguma diferença, seus limites parecem ser tão tênues que podem facilmente ser confundidos. Isso sem falar, claro, que algo pode ser visto como pornográfico ou não, dependendo apenas da época e do lugar em que se vive.

Pela História temos vários exemplos disso. Ao contrário dos artistas gregos e romanos, que consideravam o nu masculino como exemplo da perfeição humana, após o cristianismo o nu das obras de arte passou a ser considerado obsceno e a causar constrangimentos. Antes de serem exibidas para o público, as estátuas tinham seus órgãos genitais tapados, ou o pênis quebrado com um martelinho especial. O Davi, de Michelangelo, antes de ser exibido em Florença em 1504, recebeu uma folha de figueira, só retirada em 1912.

Lancei a questão sobre a diferença entre erotismo e pornografia no meu site e vieram as respostas. Se juntarmos as respostas enviadas pelos usuários do site, encontramos as seguintes ideias: Erotismo: é mais natural, puro, sutil, espontâneo, sugestivo, deixa espaço para fantasias, mexe com a nossa sensibilidade. Pornografia: é artificial, impõe, entrega tudo pronto, não deixa espaço para imaginação, é o sexo público e explícito, baixaria, comercialização e banalização do sexo, falta de classe, aberração.

No entanto, houve os que consideraram pornografia e erotismo sinônimos: “Não se fala filme erótico, assim como filme pornô? Qual a diferença? As pessoas têm o mau hábito de associar a palavra pornografia à baixaria. O sexo, o desejo, são coisas lindas. Quem não aprende a gostar disso não sabe viver intensamente!” E ainda os que percebem a diferença, mas defendem a pornografia: “O erotismo é uma coisa chata, parece com chuchu (aguado, sem graça, e não tem gosto de nada). Gostar de erotismo é não ter coragem de realizar desejos. A pornografia, por sua vez, quando explorada sem profissionalismo, quando se está entre quatro paredes, é simplesmente a materialização do que chamamos de tesão!” Talvez a diferença entre erotismo e pornografia não seja tão grande quanto parece à primeira vista. Das várias definições ouvidas dos amigos, gostei muito da que diz: “Erotismo é o que eu faço. O que os outros fazem é pornografia.”

1/22/2011

A fé move montanhas de dúvidas pra debaixo do tapete de Deus

Não há nada mais humano que a fé. Não existe relato algum entre os outros animais de atos de fé. No quesito fé, o homo sapiens é mestre. Precisamos ter fé em algo que seja "Superior" e resolva ou ao menos nos ajude, a solucionar coisas que nos parecem fora do alcance humano. Mas como ter fé, se esta tem como principal base a ausência da dúvida. E o que seria de nós se não fossem as pessoas que duvidam e acham respostas para questões que antes eram "mistérios divinos"?

Por que não se pode ter uma fé baseada na dúvida? Aliás, pensando bem, será que a base da fé não seria na verdade a dúvida que rapidamente se torna medo? Sim, porque se eu não tenho certeza do que vai me acontecer no futuro, se tenho dúvidas sobre a existência humana e tantas outras questões, acabo por aderir a uma fé que me acalentará e se não me responder, ao menos completará algumas lacunas com respostas dogmáticas com recheio de verdades e raciocínios lógicos e alguns até circulares.

Vamos inventar um diálogo que pode ocorrer facilmente entre uma pessoa que tem "fé" (CF) e outra "sem fé" (SF):

SF:Como eu posso descobrir sobre Deus?
CF:Lendo a Bíblia.
SF:Mas por que eu devo crer na Bíblia?
CF:Porque é a palavra de Deus.
SF:Mas não foram homens como nós mesmos que escreveram?
CF:Não, eles eram inspirados por Deus.
SF:Quem disse isso?
CF:Eles mesmos.
SF:Onde?
CF:Na Bíblia
SF:E se eles mentiram?
CF:Impossível, se mentissem não estaria na Bíblia porque Deus não permitiria isso.

No diálogo acima o "raciocínio" circular percorrerá um espiral até que chegue a um momento em que o questionador (SF) se sentirá em déficit de fé e "superávit" de dúvidas, descambando para o ateísmo ou para uma religiosidade onde as dúvidas são mistérios dos quais não temos ainda "maturidade" para alcançar o entendimento pleno.

Particularmente aceitaria mais fácil um Deus que vez por outra admitisse ser Culpado. Um Deus falho. Seria mais fácil pra mim pedir perdão a Ele por minhas falhas e dizer "perdoe-me assim como perdoarei o próximo e a Ti também, por não me entender e não ter a sabedoria de fazer-se entender de forma lógica e compatível com o nível de inteligência que me destes. Se Tú me deu pouca inteligência cabe a Ti ficar ao meu nível, como o mestre que adequa seu ensino ao conhecimento de mundo do seu aluno. Afinal, aluno que não entende a aula pode ser por desinteresse mas pode, e muito, ser consequência de um professor relapso, sem paciência ou mesmo didática.

Um Deus onipresente, onisciente e sempiterno carrega em tantas características surreais, uma imensa responsabilidade, muito mais que a colocada em nossas costas pela religião, que insiste em nos culpar por não entendê-Lo.

Se a dúvida for uma "higienização" na mente para preceder a fé pura, serei dos mortais um dos mais fiéis um dia. Se Deus quiser!