11/17/2008

FIJ lança campanha em defesa da ética no Jornalismo

Por Cristina Palmeira/Colaboração ao Portal IMPRENSA, de Paris

O jornalismo passa por uma crise mundial, na qual até mesmo a missão do jornalista esta ameaçada, avalia Jim Boumelha, presidente da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ). A organização reúne 600 mil profissionais espalhados pelos quatro cantos do planeta e está lançando uma campanha em defesa da ética.

Boumelha sublinha que, nos últimos tempos, a mídia é alvo de um movimento de aquisição e fusões que coloca em risco o debate de idéias; provoca a supressão de milhares de postos de jornalistas experientes e o desmantelamento de redações - os paises anglo-saxões, estão na linha de frente deste fenômeno. Nos Estados Unidos, 20 mil profissionais da mídia (não apenas jornalistas) perderam o emprego e, somente em julho, foram duas mil supressões de postos. Tal movimento atinge em cheio a imprensa inglesa.

Um detalhe chama atenção do presidente da FIJ: o fato de que as empresas que demitem não passam necessariamente por um período de crise financeira. Ele cita empresas que tiveram um lucro da ordem de 25% mas enxugaram a redação. "E claro que a crise financeira internacional tende a piorar este quadro", admite o jornalista inglês, ao explicar que ao lado da redução dos quadros há o agravamento das condições de trabalho, a precarização dos freelancers e a criação das "bolhas de estagiários".

Em meio a este cenário, a FIJ lança a campanha "Iniciativa da Ética no Jornalismo". "O jornalismo ético a prioridade da FIJ", afirma Aidan White, secretario geral da entidade, ao explicar que qualidade do jornalismo é fundamental para a garantia da democracia.

A campanha comporta várias linhas de ação, como a de garantir o nível da informação, a formação dos profissionais e a defesa dos direitos dos jornalistas. Na Europa, o dia 5 de novembro foi escolhido como uma jornada de solidariedade. Outro front se desenrola nos paises Árabes, na qual a FIJ se empenha na luta pela liberdade de imprensa - em algumas nações a mídia está nas mãos do Governo.

Já na América Latina, a segurança dos jornalistas é um ponto fundamental. No México, por exemplo, vários profissionais foram assassinados.

White reconhece que há uma crise moral e frequentemente os patrões perderam o senso da missão do jornalismo. Segundo ele, um dos entraves para a categoria é o fato de haver uma divisão entre os profissionais. "É preciso criar de novo a solidariedade entre os jornalistas", salienta. Outro ponto capital, na opinião do jornalista, é o de estabelecer uma aliança com os patrões, principalmente os que possuem uma visão ética da profissão. A terceira vertente é a de garantir um elo com os cidadãos.

FIJ apóia manifestações pelo diploma no Brasil

O presidente da FIJ destaca ainda a importância das alianças com um maior número possível de atores, entre eles o das Faculdades de Jornalismo. Ele cita como exemplo, o engajamento da entidade no Brasil na campanha pela defesa do diploma de jornalista. A luta recebeu o apoio dos sindicatos de todo o mundo, mesmo o de países onde o título não é exigido, como na Grã-bretanha. Os brasileiros estão entre os jornalistas mais atuantes junto à Federação, segundo o presidente da entidade.

Além da questão ética, uma das grandes interrogações recai sobre o novo sistema a ser adotado pela imprensa. White reconhece que a internet mostra que o atual modelo de mercado da mídia está quebrado e que é preciso encontrar um novo paradigma para o futuro.

Aliás, o comitê executivo da FIJ, que se reuniu este fim de semana em Paris, decidiu implantar um grupo de trabalho para tentar apreender qual será o jornalismo de amanhã, face aos desdobramentos da crise mundial. O secretário da FIJ reconhece que há uma aura de pessimismo entre os jornalistas, mas procura mostrar que há uma luz no fim do túnel. "É preciso ter a confiança de que numa democracia, o jornalismo vai sobreviver".

Sobre blogueiros e jornalistas

A internet provocou ainda a eclosão de sites e blogs nos quais o cidadão comum procura se converter em jornalista. O secretário da FIJ é categórico ao ser questionado se, numa sociedade em que todos se consideram como jornalistas, ainda há a necessidade dos profissionais. "Dizer que não precisaremos de jornalistas no futuro é um absurdo".

Ele explica que há uma grande diferença entre liberdade de expressão e a de imprensa. A primeira é a liberdade de cada indivíduo de dizer o que pensa, não importando a veracidade dos fatos. No caso dos jornalistas, há um quadro ético, atrelado à realidade, à independência e à consciência das informações publicadas. "Os blogueiros são blogueiros, eles têm a possibilidade de se exprimir, mas para mim isso não é jornalismo", frisa White.

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