Michel Onfray, um popular filósofo francês, vê nas religiões monoteístas um entrave à ciência, à ética e à política
Por Leneide Duarte-Plon, de Paris
Michel Onfray, 45 anos, veste-se com a displicência de um professor de filosofia que queria ser condutor de trem. Um dos mais populares filósofos franceses, ele não lembra, nem de longe, intelectuais de paletó e gravata e também não escreve para iniciados. Mas isso não quer dizer que seu texto seja raso. Seus livros têm qualidades literárias e tiragens de best sellers.
Ideal.“Meu propósito não é fazer um panfleto ou incitar ao ódio. Apenas proponho uma visão do mundo sem Deus”Ao ser recusado pela SNCF, a estatal dos trens, o jovem Michel foi fazer faculdade e descobriu a filosofia. Desde então, passou a conviver diariamente com Kant, Nietzsche, Feuerbach e os filósofos da Grécia antiga. Depois de ensinar filosofia em um liceu durante 20 anos, Onfray criou com alguns colegas, em 2002, a Universidade Popular de Caen, na qual dá aulas para auditórios entusiasmados de mais de 200 pessoas, que seguem seu curso pelo simples prazer de descobrir o que é filosofar. A UPC não faz exames nem fornece diplomas. Onfray define-se como um “materialista hedonista” que acha que o mundo vive hoje uma overdose de sagrado e de religião. A constatação da onipresença das religiões e do “caráter nefasto dos três monoteísmos na história da humanidade” levaram o filósofo a escrever o Tratado de Ateologia, que já vendeu mais de 170 mil exemplares em francês. Os direitos do livro já foram vendidos pela editora Grasset para oito países. O Tratado de Ateologia, de quase 300 páginas, aponta o papel devastador das religiões na história da humanidade. “Olhar a história é suficiente para constatar a miséria e os rios de sangue que correram em nome do Deus único”, escreve Onfray, que vê nas religiões monoteístas um entrave ao progresso e ao desenvolvimento da ciência. Seu livro investe contra Jesus Cristo – “uma fábula” criada por alguns judeus autores dos Evangelhos –, Paulo de Tarso, Moisés e Maomé num texto ágil, que pode ser resumido na expressão que ele mesmo usa: “Nem Bíblia nem Alcorão”. Rabinos, imãs, padres e pastores são apontados como personagens retrógrados, responsáveis por perseguições, guerras e massacres de toda espécie, que Onfray se compraz em analisar. A esses religiosos, Michel Onfray contrapõe a figura do filósofo, que procura encarar, com a razão, a realidade da vida e da morte. “Enquanto os homens tiverem de morrer, uma parte deles não poderá suportar esta idéia e criará subterfúgios. Não se assassina um subterfúgio, não se pode matá-lo. Ele é quem nos mata: Deus mata tudo o que resiste a ele. Em primeiro lugar a Razão, a Inteligência, o Espírito Crítico. O resto vem por reação em cadeia...” Em seu tratado, o hedonista Onfray revela-se um iconoclasta disposto a não deixar pedra sobre pedra do judaísmo, do cristianismo e do Islã.
Por Leneide Duarte-Plon, de Paris
Michel Onfray, 45 anos, veste-se com a displicência de um professor de filosofia que queria ser condutor de trem. Um dos mais populares filósofos franceses, ele não lembra, nem de longe, intelectuais de paletó e gravata e também não escreve para iniciados. Mas isso não quer dizer que seu texto seja raso. Seus livros têm qualidades literárias e tiragens de best sellers.
Ideal.“Meu propósito não é fazer um panfleto ou incitar ao ódio. Apenas proponho uma visão do mundo sem Deus”Ao ser recusado pela SNCF, a estatal dos trens, o jovem Michel foi fazer faculdade e descobriu a filosofia. Desde então, passou a conviver diariamente com Kant, Nietzsche, Feuerbach e os filósofos da Grécia antiga. Depois de ensinar filosofia em um liceu durante 20 anos, Onfray criou com alguns colegas, em 2002, a Universidade Popular de Caen, na qual dá aulas para auditórios entusiasmados de mais de 200 pessoas, que seguem seu curso pelo simples prazer de descobrir o que é filosofar. A UPC não faz exames nem fornece diplomas. Onfray define-se como um “materialista hedonista” que acha que o mundo vive hoje uma overdose de sagrado e de religião. A constatação da onipresença das religiões e do “caráter nefasto dos três monoteísmos na história da humanidade” levaram o filósofo a escrever o Tratado de Ateologia, que já vendeu mais de 170 mil exemplares em francês. Os direitos do livro já foram vendidos pela editora Grasset para oito países. O Tratado de Ateologia, de quase 300 páginas, aponta o papel devastador das religiões na história da humanidade. “Olhar a história é suficiente para constatar a miséria e os rios de sangue que correram em nome do Deus único”, escreve Onfray, que vê nas religiões monoteístas um entrave ao progresso e ao desenvolvimento da ciência. Seu livro investe contra Jesus Cristo – “uma fábula” criada por alguns judeus autores dos Evangelhos –, Paulo de Tarso, Moisés e Maomé num texto ágil, que pode ser resumido na expressão que ele mesmo usa: “Nem Bíblia nem Alcorão”. Rabinos, imãs, padres e pastores são apontados como personagens retrógrados, responsáveis por perseguições, guerras e massacres de toda espécie, que Onfray se compraz em analisar. A esses religiosos, Michel Onfray contrapõe a figura do filósofo, que procura encarar, com a razão, a realidade da vida e da morte. “Enquanto os homens tiverem de morrer, uma parte deles não poderá suportar esta idéia e criará subterfúgios. Não se assassina um subterfúgio, não se pode matá-lo. Ele é quem nos mata: Deus mata tudo o que resiste a ele. Em primeiro lugar a Razão, a Inteligência, o Espírito Crítico. O resto vem por reação em cadeia...” Em seu tratado, o hedonista Onfray revela-se um iconoclasta disposto a não deixar pedra sobre pedra do judaísmo, do cristianismo e do Islã.
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