e temores que eles, por sua vez, receberam dos pais e os irreligiosos tem igual
empenho em influir no jovem para impor-lhe a maneira de pensar que acaso seguem.
Todos queremos fazer nossos filhos aceitar nossa forma de devoção, ou nossa
ideologia predileta. É muito facil emaranhar-nos na rede das imagens e das
fórmulas inventadas por nós mesmos ou por outros; daí decorre a necessidade de
estar sempre muito atentos e vigilantes.
O que chamamos religião não passa de crença organizada, com dogmas,
rituais mistérios e superstições. Cada religião tem seu livro sagrado, seu
intermediário, seus sacerdotes e seus métodos próprios de ameaçar as pessoas e
mante-las sob seu domínio.
Quase todos nós fomos condicionados para aceitar tudo isso - e tal
condicionamento se chama educação religiosa, cujo resultado é de por o homem
contra o homem, criar antagonismo não só entre os crentes, mas também contra
aqueles de crenças diversas. Embora as religiões afirmem adorar a DEUS e ensinem o
amor mútuo, todas elas instilam temor, com suas doutrinas de recompensa e punição
e, com a rivalidade de seus dogmas, perpetuam a desconfiança e o antagonismo.
AS SEITAS E A MANIPULAÇÃO DA FÉ
Em 1978, o mundo inteiro ficou chocado ao descobrir que mais de 900
pessoas se suicidaram ou foram mortas ao mesmo tempo, em Jonestown, na Guiana,
seguindo as ordens de Jim Jones, pastor e lider da até então desconhecida seita
Templo do Povo, de origem americana.
Mais de uma década depois, essa tragédia está inteiramente esquecida e
fazemos de conta que apenas Jones e seu grupo de fanáticos agiria daquela forma e
que esse gênero de comportamento enlouquecido, sadomasoquista, assassino e suicida
somente seria possivel em grupos religiosos e políticos bizarros.
A história das religiões e dos movimentos políticos, no entanto, nos
mostra que a verdade é bem outra: as organizações religiosas de tendência
messiânica - e no Ocidente é dificil descobrir uma que não tenha tal origem - são
fanatizantes. E um comportamento como o de Jones e de seus fiéis não é exatamente
uma novidade, apesar de toda sua violência.
Alguns exemplos, para falar apenas do século 20: o que foi o nazismo,
além de um movimento político-religioso, com todas as características de uma
seita? O que é a Ku-Klux-Klan, que une dogmas cristãos à crença na superioridade
racial e política da raça branca? O que foram os pilotos kamikazes japoneses na II
Guerra Mundial - que voavam para o suicídio, acreditando fazer a vontade do
semideus Hirohito? O que é a guerra santa muçulmana contra o escritor Salman
Rushdie, que deve morrer porque escreveu um livro? E o que é a manipulação dos
preconceitos populares por um político que quer chegar ao poder ou lá se manter?
O que há de comum entre todas essas seitas - políticas e religiosas, do
passado ou do presente - é seu carater alienante, totalitário e fascistóide: todas
usam o controle da mente, do pensamento, das emoções e da informação. Dessa forma,
mantém seu fiel escravizado.
Há alguns anos, foi realizada uma pesquisa nos Estados Unidos, logo após
a tragédia comandada por Jones. Essa pesquisa mostrou que, no interior das seitas,
o crente passa a depender emocional, psíquica e financeiramente dos seus chefes e
pares, perdendo aos poucos o contato com a realidade.
O que os pesquisadores tentavam era entender como é que pessoas
relativamente saudáveis passam a aceitar regras de comportamento absurdos,
ridículos, humilhantes e desumanos como aqueles impostos pelas seitas. A conclusão
foi que, em geral, aqueles que se unem a esses grupos tem problemas emocionais ou
psíquicos, sofrem de alguma inadaptação em relação à sociedade ou estão à procura
de respostas para suas dúvidas em relação à vida e ao futuro.
Ou seja: como alertam os psicólogos que estudam a questão das seitas há
anos nos Estados Unidos, ninguém está livre de se envolver com grupos desse
gênero, simplesmente porque, hoje em dia, todos temos um ou outro problema
emocional, psíquico, de adaptação, ou buscamos respostas e segurança.
Assim, todos que se ligam a essas seitas são pessoas que querem um pouco
de atenção, de carinho, de companheirismo, coisa que a seita oferece: lá todos
pensam e agem da mesma forma, reverenciam o mesmo lider superior e infalivel,
todos abandonam seu nome e biografia, deixam de ter posses, família, amigos e vida
pessoal. Há, portanto, pelo menos uma aparente igualdade. O interior de uma seita,
dessa forma, é o paraíso dos
inadaptados: ali são ouvidos e aconselhados.
Há mais: além de tudo isso, todos passam a participar de um trabalho que
acreditam ser vital para o futuro da humanidade e do planeta - salvar a espécie
humana do Demônio (ou do comunismo, quando é o caso). O intuito da seita, dessa
forma, é "servir e apoiar as pessoas, até que elas estejam dependentes. Então,
controla-as", como concluiu o estudo americano.
Até há pouco tempo, o pensamento oficial acreditava que a questão das
seitas se resumia na vontade de ganhar dinheiro facil por parte dos seus líderes.
Hoje, no entanto - pelo menos segundo a visão dos poucos psicólogos que estudam
esse fenômeno -, a questão não é simplesmente financeira: os pretensos
super-homens que dirigem esses grupos querem dinheiro, mas também atenção e a
mente do máximo de pessoas. Querem o poder.
O curioso é notar que, apesar de todas as advertências, as seitas
continuam a surgir, crescer e se espalhar, usando sempre a técnica de controle da
mente - criado e largamente utilizado pelos exércitos de todo o mundo,
especialmente na doutrinação dos soldados.
Mais curioso ainda é que nem mesmo os movimentos que se pretendem novos,
ligados à chamada Era de Aquário, estão livres desse componente autoritário: os
grupos ufológicos, meditativos, mântricos também usam tais técnicas e, segundo
lembra aquela pesquisa, "as pessoas doutrinadas a fazer meditação excessiva e
cânticos diários podem se tornar dependentes. Essas práticas geram descargas
químicas que causam não apenas o estado de alienação mental, mas um comportamento
O processo de sedução das pessoas pelas seitas não tem nada de complexo
e profundo: os novos crentes são envolvidos de todos os lados e, aos poucos, são
afastados de tudo que gostam e de todas as pessoas que representam algum tipo de
afeto.
Assim, nos encontros com o novo crente, somente se discute, somente se
lê e somente se pensa nas questões que interessam ao grupo e, claro, ao lider. O
resultado é que, em pouco tempo, as pessoas perdem inteiramente a vontade, o
discernimento, a individualidade: são verdadeiros robôs humanos, prontos para a
manipulação e para servir cegamente e apenas à seita.
O passo seguinte é transformar essas pessoas em mão-de-obra barata,
quase escrava, cujo trabalho é buscar dinheiro de qualquer forma para a
sobrevivência e crescimento do grupo. A forma mais comum é levar os novos crentes
a fazer doações, mas algumas seitas chegam a transformar as mulheres em
prostitutas, que levam o dinheiro arrecadado em suas operações - consideradas
sagradas, obviamente - para o grupo.
O mais trágico em tudo isso é que, é muito dificil fazer alguma coisa: é
como tratar viciados em álcool ou dependentes de drogas. O processo é lento,
doloroso e caro, principalmente porque o fiel acredita que está ao lado da verdade
e de Deus e que de forma alguma está sob o controle mental da seita: a sociedade é
que está enganada e manipulada pelo Diabo e/ou pelos comunistas.
Nada disso é novidade: todos aqueles que tem um amigo, parente ou
conhecido envolvido com uma seita - e não é necessário buscar seitas de origem
americana para servir como exemplo - sabem que ele deixou de ser a mesma pessoa
quando se envolveu com a seita, exatamente como ocorre com aqueles que se viciam.
No entanto, não existe qualquer preocupação em relação a esses grupos
totalitários, viciantes e terroristas. Ao contrário: muitas dessas seitas tem
horário na televisão, no rádio, publicam livros, lançam fitas com conselhos, fazem
encontros.
De forma alguma o que se propõe aqui é a perseguição ou a censura, como
podem acreditar os mais apressados. A questão é apenas de justiça: se as seitas
criam dependência e viciam exatamente como a droga, por que somente produtores de
drogas e drogados são criticados? Por que as seitas são tratadas como coisa
passageira e de menor importância, se manipulam a fé das pessoas e as transformam
em seres humanos sem vontade, sem sonhos, robotizados e aterrorizados? Qual a
diferença entre depender de cocaina e depender das palavras do lider de uma seita?
Em ambos os casos, a liberdade, a consciência e a dignidade do ser humano não
existem mais.
OS DEUSES DO NOSSO MUNDO
Aos deuses sempre se atribuiu poderes especiais. São eles, pelo menos
tantos assim os consideram, que têm as faculdades de influir na vida de todos nós,
de resolver os grandes problemas individuais, de trazer soluções miraculosas para
nossas dificuldades.
Nos tempos primitivos os deuses foram criados pela mente humana em sua
busca por proteção e talvez, não seria exagero dizer, para cada ação ou atitude
que o homem deveria tomar, o apelo à ajuda superior se fazia incondicionalmente
antes de qualquer decisão. As mitologias de inúmeras culturas chegaram até nós
revelando as histórias, as lutas e as ansiedades dos deuses, que de maneira
recíproca refletiam as histórias, as lutas e as ansiedades dos próprios homens.
Idolos e muitos foram estabelecidos sempre possuidores de forças
incomensuráveis para que controlassem a fúria de vendavais, de terremotos e de
vulcões, para que canalizassem os poderes de reconstrução onde catástrofes teriam
ocorrido e para que, poderosos em toda circunstância, conduzissem o homem ao altar
do Paraíso. A necessidade destes ídolos era fundamental pela pequena luz do
indivíduo, que buscava nestas imagens, a força que lhe faltava para resistir às
dificuldades do mundo em que se encontrava.
Mas, se de um lado seus deuses protetores lhe davam guarida, de outro
lado mais, e mais, estes estabeleciam a dependência do comportamento, conquistado,
passo a passo, a mente do homem. Ao transferir para eles poderes sem fim, deixa o
Ser humano de considerar que estes poderes estão imanentes em si mesmo, e ao invés
de estimular o crescimento deles em seu coração, buscava a inspiração nos símbolos
que criava.
No mundo de hoje também temos deuses e ídolos para os quais transferimos
nossas expectativas, não que eles as satisfaçam, mas que, sob inúmeras formas,
atraem nossos pensamentos e aí então, estaremos morando em espírito. Como se diz -
Estamos onde estiver o nosso pensamento. Nosso pensamento é o nosso universo e a
vida, a presença consciente dos conceitos de nosso interior.
Eis o automóvel, ídolo esbelto e lépido que atrai a criança, o jovem e o
adulto para o seu conforto, mas talvez com infortúnios que tem trazido a muitos.
Símbolo de "status", de riqueza, da independência de locomoção para qualquer
lugar, desperta em muitas mentes a pretensão de domínio de um homem sobre os
outros. Conduzir um automóvel propociona o falso sentido de amplidão de liberdade,
estimulando até atos agressivos para com nosso semelhantes, e por incrível que
possa parecer, alguns psicólogos recomendam que pessoas tímidas ou recalcadas em
seu interior, dirijam veículos, para aumentar sua expressão de autoconfiança!
A televisão é outro ídolo do nosso tempo. Ultrapassando suas
espetaculares funções de diversão, informação e desenvolvimento cultural, consegue
manter seus assistentes a ela atentos através de seus programas que promovem a
fixação da mente nas cenas de vida, em que heróis encarnam as impressões de
ansiedade de nossa mente. Vivenciamos então, na televisão, muito do que
gostaríamos de expressar, mesmo que os heróis adotem condutas não convencionais.
Transportamo-nos mentalmente para as cenas e
imaginamos-nos realizando tanta coisa que não fazemos normalmente. Nós nos
satisfazemos com tais realizações. A televisão constitui-se num ídolo dominador.
As últimas estatísticas dos Estados Unidos revelam que, na média, os aparelhos de
TV permanecem ligados por mais de 8 horas diárias e assim se pode avaliar quanto
tempo estamos ligados ao vídeo e que talvez pudesse ser dirigido para propósitos
mais construtivos.
O jogo exerce muita influência na mente humana. Depois de se envolver
com ele por algum tempo, - e há inúmeras formas de envolvimento no jogo nas
grandes cidades, gera-se a expectativa da vitória, que proporcionaria fortunas
pessoais e conforto real para seus felizardos. Ganhar no jogo é usufruir daquilo
que outros perderam, portanto, exige do vencedor uma reposição compensatória. A
expectativa da vitória torna-se obsessão e o jogador tem sua mente voltada para o
resultado imediato. Estudiosos da psique afirmam que o jogo constitui-se no pior
dos falsos ídolos, pois é dele que se originam os demais vícios.
Outro ídolo para o qual transferimos pensamentos e aquele muito ligado à
nossa vaidade - o consumismo desenfreado, motivado pela publicidade intensa. Somos
levados a comprar mais, ter mais coisas, mesmo que sua efetiva necessidade seja
pequena. É um dos ídolos do nosso tempo que usa de seus tentáculos sobre o EGO,
que deseja e gosta de ser exaltado. O materialismo gera ansiedade de se desfrutar
de bens e conforto intensamente. Há, não resta dúvida, um grande "quê" de
exibicionismo do homem em mostrar o que tem.
Vejamos agora o ídolo que conduzimos sempre conosco - o relógio, que
limita no tempo nossos atos e nos impõe desciplina pessoal. Para alguns povos
estabelece padrões rígidos na conduta do indivíduo, convertendo-se em
todo-poderoso. Devemos atender compromissos na hora certa, devemos comer, dormir e
trabalhar na hora certa. O relógio é o senhor que controla o tempo das reuniões
entre amigos, limita momentos de confraternização e até estabelece o horário para
os aspectos jubilosos da vida. O deus-relógio aperta nosso pulso e dirige cada
passo que damos - muito tempo, pouco tempo, hora para isso, hora para aquilo.
Deixar este deusinho diariamente na mesinha da cabeceira poderá nos fazer bem e
aliviar-nos do rigor da disciplina. Poderá ensinar-nos a cumprir os deveres
pessoais, sem contudo nos escravizarmos aos ponteirinhos maquiavélicos.
Há ainda muitos deuses que dominam as mentes de muitos homens: os
tóxicos, o fumo, o álcool, as idéias fixas, os preconceitos, os tabus, as
crendices, etc. Façamos uma pausa. Qual deveria ser o verdadeiro deus que sempre
nos proporcionaria alegria e satisfação?
Ouso dizer-lhes que o Ser humano tem o direito de viver bem e ser feliz.
Ter uma vida harmoniosa, trabalhar em coisas construtivas para o bem da
Humanidade. Procurar organizar-se em sociedade operativa e constituir família
integrada nos mesmos propósitos da comunidade. Cada um deve ter as oportunidades
de expressar-se ampla e completamente. Trabalhar, amar, divertir-se e consagrar
sua vida a propósitos elevados e dignos em consonância com a finalidade Cósmica do
Universo. Buscar as verdades supremas que nos libertarão dos ídolos e falsos
deuses, que a mente humana tem gerado com tanta proficiência, deve constituir-se
no objetivo de cada estudante. Este é o deus de meus pensamentos, para onde
procuro a chama estimulante para desfrutar cada momento com júbilo. Constantemente
devemos questionar-nos sobre a melhor forma de ser feliz no contexto complicado da
vida moderna. Como levar o nosso barco ao porto seguro, navegando num mar
tumultuoso e incerto? Como manter uma tranquila paz interior, quando a agitação
externa nos tenciona reações até agressivas?
Quando nossos pensamentos com compreensão ampla da fenomenologia
estiverem voltados para esta felicidade total e a buscarmos, instante a instante,
despertado o Deus Interior, que se nos manifestará profusamente e o que
denominaremos de Deus do Nosso Coração se revelará como uma expressão maravilhosa
da infinita Essência Universal. Este é o Deus verdadeiro para todos nós.
FIM
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