Dias desses fui praticamente coagido a assistir a um culto evangélico. Eu explico. Como eu precisava me desfazer de uma filmadora para juntar dinheiro para pagar custos do meu processo de separação, me informei sobre essa igreja que teria interesse em comprar a filmadora. Lá o pastor me disse que realmente tinha interesse e que eu deveria deixar a filmadora na igreja e retornar as 20 horas, para observar junto aos técnicos da igreja o desempenho da mesma durante o culto. Após o culto ele me daria a resposta se ficaria ou não com a filmadora. Então, 19h30, lá estava eu. Notei algumas diferenças das demais igrejas evangélicas no que tange ao vestuário dos crentes. As mulheres de calça, homens de calça jeans, alguns “playboyzinhos” de cabelo comprido, pessoas a vontade para se vestir na moda ou como quisessem. Gostei. Acho que o respeito a individualidade das pessoas começa por tolerar que cada um se arrume conforme se sinta bem. Interessante que eu fui todo no social, para não me sentir diferente e acabei sendo o diferente. Logo começou o culto. Um homem inicia com uma oração com uma voz suplicante e chorosa, acompanhada ao fundo de uma banda. Este mesmo homem após declamar a oração começa a cantar e toda a platéia canta junto. Neste momento sinto um clima contagiante em toda a igreja. As pessoas cantam de mãos levantadas, olhos lacrimejantes, sorrisos extasiantes e quase me dá vontade de cantar também. Começo entender a magia das igrejas. É uma espécie de terapia em grupo. Aquela cantoria toda, Jesus prá lá, Jesus pra cá... penso comigo, “porra, sacanagem se Jesus não tiver ouvindo essa galera, espero que esteja pois eles até que cantam afinadinhos”. Mas depois penso também que aquilo tudo eles fazem é pra eles mesmos, para se sentirem em paz consigo mesmo e com a sensação de que estão fazendo a parte deles, afinal não consigo conceber que Jesus seja tão narcisista que precise de pessoas o idolatrando. Mas tudo bem, se existe gente que grita e pula ao ver a cara de um Filipe Dylon da vida, é mais que justo que as pessoas dancem, cantem e pulem em adoração a JC. Depois de muita cantoria o pastor (meu cliente) sobe no púlpito e começa seu trabalho. O primeiro assunto é sobre as ofertas e dízimos. Neste momento cai por terra minha esperança de que aquela seria uma igreja diferente. O pastor diz que aqueles que ali estão que tiverem a consciência de que o que eles possuem não os pertence, mas pertence a JC, viessem a frente e depositassem nas caixas. Recomeça a cantoria enquanto alguns vão a frente depositar as ofertas. Neste momento fico sem graça. Não sei porque mas fiquei. Depois disso um casal de pastores, o pastor e sua esposa também pastora começam a discursar. Não é bem uma palestra mas uma espécie de animação de auditório, algo do tipo como Silvio Santos faz, ou como a Xuxa. “Apontem o indicador para sua própria boca”, diz a pastora, e todos obedecem sem nem saber o porquê da encenação. Depois ela ordena que repitam: “tudo o que sair de minha boca será abençoado” e lá vai todos repetindo como um papagaio. Segue-se muitas outras cenas dessa espécie de variação daquela brincadeira “chefinho mandou”. Neste momento minha decepção é deflagrada. Saio pra comer um pastel. Quando volto ainda pego uma parte onde todos os ali presentes que desejam montar um negócio próprio são convocados a irem até a frente para que o pastor ore por eles.
No final o pastor que iniciou (meu cliente), volta pra contar como JC tem abençoado a igreja financeiramente. E conta, chorando, como JC o abençoou fazendo com que um irmão o presenteasse com um indispensável notebook. Realmente. Gente boa esse JC. Voce pede ele te dá. Claro, tem que pedir com fé, se não...
Talvez alguém pense que debocho da fé das pessoas, ou de Deus (JC). Não. Mas o que me impressiona não é o fato de pessoas manipularem as outras dizendo-se agentes autorizados de JC. Impressiona-me a facilidade com que as pessoas se deixam levar.
Ah! No final eu vendi a filmadora! Deus seja louvado!
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