11/08/2005

Florbela Espanca

“Tenho ódio à luz e raiva à claridade
Do sol, alegre, quente, na subida
Parece que minh'alma é perseguida
Por um carrasco cheio de maldade!
Ó minha vã, inútil mocidade,
Trazes-me embriagada, entontecida
Duns beijos que me deste noutra vida,
Trago em meus lábios roxos, a saudade.
Eu não gosto do sol, eu tenho medo
Que me leiam nos olhos o segredo
De não amar ninguém, de ser assim!
Gosto da noite imensa, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim.”

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