9/14/2006

Matrix Acadêmica – a liberdade pode ser real

O filme Matrix, que fez um estrondoso sucesso mundial, colocava em linguagem hollywoodiana, algo que há muito já era discutido por filósofos: vivemos num mundo real ou tudo o que vemos, sentimos e ouvimos são meros efeitos produzidos por nossos sentidos? Na ficção, a “pílula azul” fazia com que a mente permanecesse aprisionada e a “pílula vermelha” a libertava. O filme trata de questões como a liberdade de pensamento e crueza da realidade quando se perde a inocência. Matrix é sobretudo um mundo de faz-de-conta, uma ilusão construída dentro da mente que isola as pessoas da verdadeira dimensão do mundo real.

Por mais estranho que pareça, essa analogia “matrixiana” pode ser aplicada ao universo acadêmico. De fato, muitos estudantes vivem hoje dentro de uma Matrix acadêmica, cercado de teorias, que pouco ou nada refletem do “mundo real”, mas apenas uma aparência do que seria um “mundo”, que de real não teria muito. De forma alguma se despreza aqui a importância das teorias, tratados e artigos científicos no processo de aprendizagem, mas sim, a alienação que algumas vezes tais acessórios podem causar. O curso de jornalismo, dentre tantos, é um bom exemplo disso. Cercado de teorias do jornalismo, escola de Frankfurt e muitos outros conceitos que surgem no meio acadêmico, não é difícil que o estudante incauto envolva-se pela cortina de fumaça das teorias sendo transportado para o mundo do jornalismo utópico, imersos em conceitos que julgam serem a tradução da “realidade”. Da mesma forma que no filme, a “pílula vermelha” dava acesso ao mundo real, não tão colorido, frio e úmido, o contato dos estudantes com empresas de verdade, através dos estágios, seria essa “pílula vermelha” que tem resgatado muitos do coma letárgico em que se encontram. Muito mais interessante ainda seria o contato com esse mundo real mesmo estando dentro do campus.

A implantação do departamento de jornalismo da TV UESB, uma emissora situada dentro do campus, com profissionais formados na instituição e com contínuo fluxo de professores e estudantes estagiários trará muito mais do que a oportunidade para um simples estágio (isso para os que se habilitarem a tomar a “pílula vermelha”). Ainda que nem todos estejam diretamente ligados à emissora ou ao núcleo de jornalismo, impreterivelmente todos envolvidos com o curso de jornalismo deixarão de serem “pedras” para se tornarem “vidraças”. Durante muitos anos estudantes e professores do curso foram ferrenhos críticos do jornalismo feito pelas emissoras locais. Eis que é chegada à hora de sair do seguro mundo da “Matrix”, e ingressar no mundo real, o mundo das críticas, dos constrangimentos organizacionais, da politicagem, da parcialidade, do implacável “deadline”, das fogueiras das vaidades. O exercício de andar na corda bamba, equilibrando-se entre a ética, teorias, prática e o “tapinha nas costas” do chefe, será fundamental dentro do processo de aprendizagem para os que almejam entrar no “mundo real”.

O telejornal da TV UESB, ainda que esta seja uma televisão comunitária e não universitária, trará a indelével marca do curso de jornalismo. Se isso será de ajuda ou não para o progresso do jornalismo da emissora ou mesmo para o próprio curso, só o tempo dirá. De qualquer forma essa relação quase simbiótica entre TV UESB e curso de comunicação deve trazer além de bons resultados para ambas as partes, a perspectiva de um jornalismo diferenciado, mesmo que não necessariamente melhor ou pior. Acima de tudo espera-se que o censo crítico que já existe no meio acadêmico seja definitivamente respaldado não em teorias e “achismos” mas através da prática conectada ao mundo real. Para os estudantes, a certeza de que o mundo nunca mais será mesmo depois que se toma a “pílula vermelha”.

Cáique Santos

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