2/28/2007

Partir é ir ou deixar? (Parte 1)

Já havia falado sobre isso a alguns posts. De repente surgiu um trabalho de faculdade onde eu deveria dissertar sobre algum verbo. Claro, reaproveitei o antigo post e fiz este texto. Aproveitei também o momento em que passo. Como sempre digo à uma amiga, quando começo a postar nesse blog todo dia, é pq nao estou bem. Mas o bom disso é que quanto mais melancólico estou, mas tenho isnpiração pra escrever, e como gosto de escrever, entendo que exista uma certa vantagem em sofrer.



Partir é ir ou deixar? (Parte 1)


Por Caíque Santos

par.tir

v. 1. Tr. dir. Dividir em partes. 2. Tr. dir. e pron. Fazer(-se) em pedaços; quebrar (-se). 3. Tr. ind. e intr. Pôr-se a caminho, retirar-se, sair, seguir viagem.

De tantas palavras que compõem a nossa vida, sim, porque a vida é feita de verbos, o verbo “partir” infiltra-se meio que por “osmose” em nossas ações, pensamentos e sentimentos. Às vezes de forma autoritária, outras animadora, branda e tantas outras implacavelmente cruéis.

O dicionário afirma que o vocábulo “partir” possui vários significados diferentes. Não, ele apenas se disfarça, se camufla, pois sua essência é sempre a mesma. Quase sempre denota dor, ainda que nem sempre malévola.

Quem nos deixa, foi embora, partiu. Seguiu seu caminho. Sempre pensamos na partida de alguém como simplesmente seguir caminho, retirar-se, ir embora. Nem notamos, embora possamos sentir que quem parte em retirada, sempre leva algo de nós. O amor que partiu de nossa vida, o amigo que se foi a procura de novos rumos em lugares distantes, ou quem sabe aquele que partiu na morte, a única viagem da qual não é possível obtermos a passagem antecipada (até mesmo porque poucos se interessariam em comprá-la).

As pessoas realmente especiais em nossa vida transcendem o significado do verbo partir. Não apenas partem no sentido de ir, mas no sentido de dividir. Partem levando um pedaço... Do coração, às vezes do restinho de esperança que tínhamos de um dia viver uma grande história de amor. Alguns quando partem, repartem a saudade, levando um pouco consigo e dividindo conosco o peso de senti-la. Divide-nos em dilemas (parto junto ou fico, se fico me divido, se vou... parto e me divido de qualquer forma), fazendo em pedaços nossas certezas.

E até mesmo quando decidimos juntar os restos partidos e repartidos que sobraram de nossa história com alguém que partiu, invocamos novamente o temido signo lingüístico dizendo que “a partir de agora” tudo vai mudar.

Entramos no mundo, através de um doloroso “parto”, que representa o fim de uma fase e o início da vida. Observamos imóveis, atônitos, pessoas partirem e partindo-nos. Traçamos metas, afirmamos que “a partir de” determinado acontecimento ou de hoje, novos rumos tomaremos e esse “a partir” sempre implicará em novas “partidas”, mais decisões difíceis como um “parto”, sentimentos “partidos”, bens “repartidos”, “participação” de outras pessoas... Enfim, boa “parte” desse verbo é “inteira” dor, abnegação e desconforto.

A partir de hoje, fica difícil aceitar a simples e fria definição dos dicionários sobre essa “coisa” quase com vida, que é o verbo partir. Ele está em tudo, até mesmo agora, quando quero encerrar este texto, imagino que terei que “partir” e jamais voltar a falar sobre isso. Tenho que concluí-lo, caso contrário darei margem a uma continuação, uma possível “parte 2”. Mas pensando bem, esse assunto não está concluído. Apenas uma parte dele. A parte que eu consigo ver. Resta a parte maior e talvez a mais importante: a que eu não vivi ainda.

6 comentários:

Anonymous said...

Você tem o dom da palavra...
Você também tem outros dons...
Você tem o dom de arrancar de mim,toda uma admiração que sinto por poucas pessoas (de verdade).
E que Deus te ilumine cada vez mais e mais!!

Mi do Carmo said...

Talvez os sentimentos mais fortes sejam embalados pelo verbo partir. Ele está presente não só no ato em si do significado da palavra. Quando a possibilidade de partir está distante, essa mesma possibilidade de partir nos consome por dentro com o medo de um dia o verbo tomar forma, cores, cheiros, vida.
Nossa existência está laçada à esse verbo.
Legal o texto, Cá!
Saudade tb...

Anonymous said...

Acredito que a dor do "partir" pode ser recuperada no "repartir"...
Aguardo a segunda parte!
Abraços deste malungo

Anonymous said...

Isso de sofrer com os "partos e as partidas" sempre me parece mesquinho!!E partindo disse pressuposto, eu sou bem mesquinha!
Eu devia ficar feliz e aliviada, pq não nascemos para um lugar, nascemos pro mundo, que é gande e diverso demais pra gente passar 80, 90 anos sem ir além...
Mas na prática eu sempre me entristeço um bocado.
Fazer o quê neh?!Natureza humana.
Nós todos(a grande maioria) não somos a favor do monogomia?!
Mas esse é outro assunto...rs

Um beijo Cacá, pra vc que fica.
Outro pra quem vai...

Naira

Anonymous said...

*da monogamia
;D

Anonymous said...

Dei uma olhada geral no seu blog e me identifiquei com quase tudo, vc escreve muito bem, parabéns!

Quanto a esse post, eu sempre digo que a tristeza me traz inspiração (Augusto dos Anjos também pensava assim)... Pois é... Quando estou bem e feliz nem me lembro de escrever, nem penso com coerência... mas a tristeza, a melancolia e a introspecção são sentimentos que nos fazem refletir e produzir :-)

Voltarei mais vezes, adorei!