11/12/2008

"Life Before Her Eyes"



Antigamente eu gostava de comentar filmes nos meus blogs. Depois "perdeu a graça", sei lá, tem tanta gente melhor que eu comentando filmes na internet. Depois filme vai muito de gosto pessoal, conhecimento de mundo, de outros filmes, história de vida pessoal, enfim... Não pretendo ser crítico de cinema, mas vou escrever pois procurei na internet páginas em portugues com comentários deste filme e não encontrei.

O filme é do diretor Vadim Perelman, o mesmo que fez "Casa de aréia e névoa" (o qual chorei copiosamente...hehehe). Mas sim, quando soube que o cara tava com filme novo na praça, meti a mão no bittorrent e fui à caça. Além disso tem Uma Thurman, já valia a pena.

Mas sim, vamos falar a sinopse do filme. Lembrando o filme "Elephant" de Gus Van Sant, que eu odiei na época, mas hoje penso que deveria assisti-lo novamente com outro olhar, "Life Before Her Eyes", traz a perspectiva de uma garota, supostamente sobrevivente ao famoso massacre da escola Columbine nos EUA, onde um moleque maluco e seu colega, chacinaram 10 pessoas e feriram 12, entre alunos e professores, em apenas 7 minutos.

O psicopata entra no banheiro feminino e encontra as duas amigas , Diana (Rachel Wood) e Maureen (Eva Amurri), e diz que vai matar apenas uma delas, e elas é quem decidirão qual vai morrer. Se este fato ocorreu mesmo, não sei sei dizer, mas é o drama básico pro desenrolar do filme.

O filme foi detonado pela crítica e um fracasso de bilheteria, tanto é que no Brasil já foi lançado diretamente em DVD.



SE VOCE AINDA NÃO VIU O FILME MELHOR PARAR DE LER AQUI, POIS A PARTIR DE AGORA HAVERÁ "SPOILERS".

O título em português, "Sem Medo de Morrer", não tem absolutamente nada a ver com o enredo do filme, nem com nada. A tradução literal do título original, inclusive dá uma sutil dica sobre o final, aliás o "the end", pelo que notei é o ponto mais polêmico nas críticas ao filme e suscita algumas questões.

"Life before her eyes", além de ter uma fotografia belíssima, consegue despertar vários sentimentos, do pânico ao riso, da ternura a um pouco de suspense, cumprindo, ao meu ver, uma das principais funções de um filme.

Achei também o filme bem voltado para a temática feminina, tratando sobre questões como aborto, relacionamento entre filhas e mães, cumplicidade entre amigas adolescentes e até passa pela coisa do puritanismo religioso, contrastando sempre a diferença entre os mundos das 2 amigas, a "santinha" e a "slut", que no na verdade são apenas dois lados da mesma moeda.

Mas enfim, o que eu queria mesmo discutir com alguem que já tenha visto o filme, é sobre o final.

BOM, AGORA MAIS DO QUE NUNCA SE VOCE NÃO QUISER SABER O FINAL PARE DE LER ESSA BAGAÇA AQUI E AGORA, OK?

Então, muitos não entenderam o final e disseram que foi sem nexo e tal. O "the end" é realmente reticente e inesperado. Eu entendi, até pelo que sugestiona o título original , "Life before her eyes", ou mais ou menos, "Vida diante dos seus olhos" que todo o filme se passa nos poucos minutos antes do assassino matar a garota. Geralmente, quando alguem passou por uma experiência de quase morte costuma dizer "eu vi passar todo o filme da minha vida". Foi isso, o "filme" da vida de Rachel Wood passou (e nós assistimos), enquanto ela decide se toma ou não o lugar da amiga para morrer, uma vez que o psicopata disse que mataria apenas uma delas, e que elas é que tinham que decidir. O problema é que geralmente quando se fala que "o filme de toda minha vida passou em segundos" antes de um acidente, as pessoas se referem ao que viveram e não ao que ainda planeja viver. Aí está o ponto polêmico deste filme, pois ela projeta como seria o futuro dela, inclusive com a filha ( que ela abortou).

Tudo indica mesmo que o que eu disse acima é a proposta do filme, até por algumas frases que aparecem no trailer e no site do filme como "life can change in an instant. That instant can last forever" (a vida pode mudar num instante e este instante pode durar eternamente).

Apesar disso, como minha imaginação é fértil, uma outra idéia que tive assim que terminou o filme, foi a hipótese de que Diana, a loirinha, realmente teria morrido mas, aludindo ao filme "Os Outros" e "Sexto Sentido", ela meio que não se deu conta disso, ficando presa à matéria e vivendo uma vida que ela queria ter vivido. Isso seria uma visão totalmente espírita do filme.

Algumas coisas me fizeram pensar assim, como por exemplo, o poster do filme, onde Diana parece meio "fantasma" e o papo que as duas amigas ela e Mauree (a morena) têm sobre vidas passadas. Além disso nota-se que a presença da filha de Uma Thurman (Rachel Wood pós-morte), está sempre associada a sentimentos de culpa por parte da mãe ( que a abortou) . O "karma" dela estaria ligado ao aborto da menina (Emma). Pirei, né? Tem mais ainda, Diana só poderia ser liberada pra partir "desta para melhor" de fato, depois que ela entendesse definitivamente que ELA morreu e isso só ocorre no final quando ela, depois de muito relutar, volta a escola e vai colocando flores desde a entrada da escola até a porta do banheiro onde tudo se deu.

"I have to go" é o que ela diz, e daí é o momento onde entende que morreu de fato. Detalhe, quando Diana chega a escola uma pessoa a aborda perguntando se ela era uma das sobreviventes e ele diz que não. Depois ao colocar as flores desde a entrada da escola até o banheiro, quando ela entra na sala de aula, coloca um ramalhete de flores em cima de sua própria carteira.

Se por um lado essa explicação "espírita" do filme é meio fantasiosa, por outro, toda a história pregressa e futura de Diana se passar "before her eyes" em apenas poucos minutos antes do cara atirar também é meio complicada de engolir.

Tenho dúvidas sobre estas minhas conclusões. Espero que outros assistam e comentem aqui para ver o que prevalece. De qualquer forma, existem algumas cenas que dão dicas sobre o que de fato está acontecendo com Diana:

1- A filha dela tem o mesmo nome (Emma) que Diana viu num memorial as crianças mortas por aborto, e ela mesma fez um aborto.

2 - O professor que é marido de Diana (quando ela é Uma), tem a mesma fisionomia de quando ela tinha 17 anos (ela envelheceu e ele não).

3 - Em uma cena ela diz a ele "você não é meu marido", isso quase no final, quando ela começa a se tocar do que está acontecendo

4- A cena em que Diana mais velha (Uma) vê o "marido" dela com outra garota, mais tarde a cena se repete em flashback e a "outra" é ela mesma jovem

5- Diana pergunta pra Mauree: "O que eu fiz pra merecer uma amiga como você?" E Mauree (que é evangélica) fala que é coisa de outra vida, Diana pergunta se Mauree acredita nisso, e ela diz "a ge nte tem que ir pra algum lugar depois que morre". Ou seja a temática espírita é trazida a tona, e geralmente em filmes assim nada acontece por acaso.

Bom, ficam aí as questões e espero que quem assistir ao filme apareça aqui para comentar comigo e tirar essas dúvidas (ou colocar outras).

8 comentários:

Anonymous said...

Acabei de assistir, e chorei pra valer. Sua interpretação foi basicamente a mesma que eu tive. Ainda assim seu texto esclareceu algumas coisas que estavam confusas em minha cabeça.
Em relação ao título, tem a ver sim, e muito, com o enredo do filme: o simples fato de Dianna ter "dado" a vida pela amiga sem medo, "Sem medo de morrer".
Lógico que o medo existiu, não haveria como fugir dele, mas o tocante é que ela ofereceu a própria vida para salvar a Maureen.

Bjoteamo! :*
(Aline)

Ah, eu sou péssima para comentar filmes. Se vc reparar, vai ver que quando escrevo sobre algum é sempre algo muito sucinto, e serve mais para recomendação mesmo... rsrsrs

Rafael Carvalho said...

Então Caíque, esse filme é do Vadim Perelman; assim por nome não me lembrava, mas depois que vi aqui no blog, reconheci. Já tinha visto o trailer. Também gostei muito de Casa de Areia e Névoa e a Uma Turman é um grande atrativo, mas confesso que o trailer me vendeu um filme que tenta emocionar o espectador a todo custo. Mas tentarei vê-lo logo.

E sério que você não gostou de Elefante? Adoro aquele filme.

Chris said...

Achei péssimo! Sem nenhum nexo mesmo.

Um ponto que não foi levantado: se na cabeça dela ela não havia morrido, o que teria acontecido com a sua amiga que não morreu? Some?

O filme se fosse bom não daria brecha para tantas interpretações. Em Sexto Sentido ou Os Outros, no final você acaba percebendo o que realmente aconteceu e liga as peças.

Aqui não tem lógica nenhuma. Não recomendo!

Anonymous said...

cara
sensacional...
mas a primeira nao acho valida, mas sim a segunda. eui só percebi qdo a mulher pergunta: Voce é uma das sobreviventes. E ela responde: Nao! Mas lendo sua critica liguei tudo e vi que realmente meu pensamento estava certo e vc esta certissimo! Amei o filme! Belos comentarios!!
Abraços

Anonymous said...

Eu achei o filme bem interessante, mas não chega aos pés do "House of Sand and Fog". Terminei de assitir o filme e fui logo procurar críticas e interpretações, pois estava bem confusa. Acho que me frustrei um pouco por que queria que Diana tivesse de fato vivido. Apesar concordar com sua visão espírita do filme, acho que Evan Rachel wood(Diana adolescente) simplesmente viu que não seria feliz em sua vida futura, portanto aceitou sua morte. Em certo ponto, em uma das cenas no banheiro me parece que Diana até aceita a morte de sua amiga quando ela pede ao atirador que a mate em vez de Diana, mas depois vemos que Diana morre em seu lugar.

Abraços

Unknown said...

Nossa, primeira vez que leio uma interpretação parecida com a minha do filme. Todos os sites falavam algo sobre Diana imaginando, segundos antes de morrer, como seria sua vida adulta. Sério, se for isso mesmo, o filme é muito sem graça.
Eu nem pensei nisso quando acabei de assistir o filme, pra dizer a verdade. A única coisa que meio veio à cabeça foi a interpretação espírita do filme. Talvez pelo fato de eu ser espírita. Mas, de qualquer forma, acho que o filme todo leva a crer isso. Tanto que, quando Diana é atropelada, o carro passa por cima dela e nada acontece. E tem mais, quando ela começa a se tocar de que está realmente morta, ela vai meio que "se desfazendo" de sua vida imaginária: pega o marido a traindo, sua filha desaparece. Acho que faz mt mais sentido interpretar o filme dessa forma.
E no seu texto ainda me dei conta de outros pontos do filme que haviam passado batido.
Muito boas suas observações! Parabéns! :)

Anonymous said...

Com relação a amiga não existe brecha. O tempo todo o filme nos leva a imaginar que foi a Maurren que morreu. Em um dos flashbacks da cena do banheiro, a menina Maurren se oferece primeiro e quando Diana pede para que na mate a amiga, o seu algoz pergunta "o que vc tem a dizer?" e neste instante ela solta a mão da amiga, e a partir daí leva a crer que Diana tinha traído a amizade em troca da sua própria vida... Então pensei: "Deve ser por isso que ela se culpa! Deve ter sido algo muito grave que ela fez naquele momento e por isso ela tem essas visões de sua vida passando pela frente levando assim à loucura" (Essa foi minha primeira interpretação)... A segunda também pensei como algo espiritual.

Anonymous said...

Recapitulando a cena:


- O que você tem a dizer? (Michael)
Talvez devesse matar você!
- Não! (Diana)
- Não o quê?! (Michael)
- Não, não me mate! (Diana)
- Mas se não matar você... Quem eu devo matar? (Michael)

Momento que ela larga a mão é esse.