11/14/2008

"Na Natureza Selvagem" (Into The Wild)


Esse post contém minhas impressões sobre o filme, não considero "spoiler", mas se você quiser assistir e ter suas prórias impressões, sem ser influenciado pelas minhas, leia até frase vermelha. Ou leia tudo, sei lá.

Quantas vezes não pensamos em abandonar tudo, emprego (principalmente), faculdade, família, filhos, tudo e todos e sair por aí, viajando, conhecendo lugares, pessoas, natureza, enfim, S-U-M-I-R. Acho que quase todas as pessoas no mundo um dia se não pensou ainda vai pensar nisso e em suicídio. Calma! Apenas pensar em se matar não quer dizer nada.


Mas este filme não trata de suicídio. Talvez um "suicídio social", mas não o convencional. Esse filme é sobre liberdade, auto-conhecimento, é pra ser assistido com o coração.

O filme, "Into the wild" que no Brasil ficou "Na natureza selvagem", é dirigido por Sean Penn. (eu só soube depois de ver o filme) A delicadeza com que ele consegue tocar nossas emoções neste filme e em outros como "sobre meninos e lobos" , "pecados de guerra" e "uma lição de amor" coloca ele na lista, pelo menos pra mim, dos grande diretores.

Emile Hirsh ( que eu não me lembro de o ter visto em filme algum, mas teve excelente atuação) é Christopher um carinha que após se formar, dá um "zignow" nos pais e "se pica" nesse mundão-de-meu-deus. É baseado em fatos reais, com certeza um pouco menos que isso. É daqueles filmes que apenas lendo a sinopse não nos empolgamos muito.

Copiei alguns dados sobre o filme do site adorocinema.com.br:

Premiações
- Recebeu 2 indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Hal Holbrook) e Melhor Edição.

- Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Canção Original ("Guaranteed"), além de ser indicado na categoria de Melhor Trilha Sonora.

- Recebeu uma indicação ao Grammy de Melhor Canção Original - Filme/TV/Mídia Visual ("Guaranteed").

- Ganhou o Prêmio do Público de Melhor Filme Estrangeiro, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.


Curiosidades
- Sean Penn aguardou 10 anos para rodar Na Natureza Selvagem, pois queria ter a certeza da aprovação da família McCandless para que o filme fosse realizado.

- Sean Penn chegou a fazer um teste com Leonardo DiCaprio, quando teve interesse em rodar Na Natureza Selvagem pela 1ª vez.

- Daveigh Chase fez testes para a personagem Tracy, mas foi preterida por Kristen Stewart.

- Brian Dierker foi inicialmente contratado como consultor para as cenas de rafting do filme. Foi Emile Hirsch quem sugeriu a Sean Penn que o escalasse como o personagem Rainey.

- Emile Hirsch perdeu 18 quilos para seu personagem em Na Natureza Selvagem.

- Foi inteiramente rodado em locações.

- Nenhum dublê foi usado nas cenas de Emile Hirsch em Na Natureza Selvagem.

- Foram necessárias 4 viagens ao Alasca, em diferentes épocas do ano, para a gravação de cenas.

- O orçamento de Na Natureza Selvagem foi de US$ 15 milhões.


Engraçado que eu nem sabia nada sobre o filme. Nem que era de Sean Penn, nem que havia sido premiado. Apenas vi uma indicação numa comunidade do orkut e soube que a trilha sonora era de Eddie Vedder, (Pearl Jam). Pra mim já bastou. Aliás Vedder é o culpado por alguns dos momentos mais líricos e emocionantes deste que foi o melhor filme que assisti neste ano.Eddie demonstra que foi, ainda é e sempre será o melhor da dita geração "grunge".

Mas sim, vamos ao filme."Happiness is real when shared", essa é a frase do filme que, ao meu sentir, sintetiza tudo. É a resposta que Chris encontra, sozinho, após duras penas, a uma série de questionamentos e lacunas que sua vida apresenta. Mas foi a reposta do cara, cada um tem que achar a sua e é isso que este filme desperta em quem o assiste, sem pressa, sem esperar nada além de pegar carona na egotrip do personagem.

Não bastasse a sutileza de tratar de temas existências sem cair em clichês do tipo "dinheiro não traz felicidade" ou "a natureza é bela" , tem uma belíssima fotografia que nos obriga a dar pausa no filme vez por outra pra admirar casa frame, (eu pelo menos sempre faço isso),

Como sempre digo, e esta é a última vez , não sou crítico de cinema (nem pretendo ser), mas, "happiness is real when shared", por isso não consigo assistir a um filme que gosto sem comentar com alguem, e as vezes não me contento em comentar, tenho que escrever.

Abrindo um "parênteses" ( essa coisa de ter olhar de crítico de cinema, faz com que tais pessoas se assemelhem aos médicos-legistas ou mesmo alguns políciais. O cara meio que não se comove com pouca coisa, prefiro continuar sentindo os filmes, ao invés de colocá-los em cima de uma bancada e dissecá-los como numa autópsia)

Sim, mas voltando ao filme. Into the wild, dá vontade de pedir demissão do emprego (não assista num domingo).Dá vontade de ligar para os nossos pais e dizer o quanto somos estranhos por culpa deles, e o quanto os amamos mesmo assim. Dá vontade de pedir perdão aos nossos filhos, mesmo que antecipadamente, por legarmos a eles tantos traumas, tantas "nóias". Into the wild te convida a conhecer a natureza selvagem mais bela, perigosa, poderosa e enigmática que existe no universo, aquela que habita em nós e passamos a vida inteira com medo de entendê-la.

12 comentários:

Rafael Carvalho said...

O filme é bem bonitinho, e o Penn foi muito feliz em transpor uma história que tinha tudo para soar batida e cheia de liçõezinhas de moral das mais simplórias. Mas não sou dos maiores fãs do filme. E não só o Emilie Hirsch como todo o elenco está ótimo, com destaque para Hal Holbroock, como o senhor que mora sozinho, e é responsável pelo momento que considero o mais emocionante: quando ele pede para o personagem do Hirsch ser neto dele.

Fora isso, a trilha sonora do Eddie Vedder é excelente de boa.

Aline. said...

Ô meu comentarista de filme favorito, tem um meme pra vc no meu blog.
Bjoteamo! :*

Mi do Carmo said...

ô Rafael, dizer que Into the Wind é bonitinho chega a ser crueldade!

Cá, gostei da descrição, como eu te disse já, eu amei muito o filme também e acho que tive essas mesmas sensações, embora no final, quando as letrinhas começaram a subir, tive uma profunda tristeza ao imaginar que uma "viagem" dessas é tão dificil de fazer.. a viagem do auto conhecimento...e as vezes quando a pessoa encontra o seu caminho, já pode ser tarde demais...

Enfim, realmente a fotografia e a trilha tinham o dever de ser não só complementares, mas protagonistas da história, já que se trabalha no filme muito naquilo que se vê e que se ouve, com os sentidos e as sensações. Sem sensibilidade por parte de quem assiste, o filme não funciona.

Só um PS., eu entendi que vc disse que de todos os filmes dirigidos por que vc citou de Penn esse era seu favorito, mas nenhum deles foi dirigido por ele, Penn era o protagonista.

E quanto a ser crítico, por ex, eu não me considero uma, mas muitas vezes coloco o "corpo" na autópsia para ser analisado com mais profundeza, mesmo que seja sem compromisso com um público. Adoro perceber o que se esconde, o que está nas entrelinhas, algumas vezes ser legista nesse caso é bom. Em outras, nem precisa.

Beijos.

Caique said...

Obrigado pela correção Mi, achava que Penn havia participado na direção destes filmes...

Quanto aos críticos "profissionais" creio sim, q eles perdem um pouco a sensibilidade.

Ps.: Acho que meu coleguinha Rafa está virando um crítico profissional...rs

Hélio Flores said...
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Hélio Flores said...

Pera la, deixa eu fazer uma defesa da tal "critica profissional".

Ao menos pra mim é muito importante entender alguns procedimentos de cinema e pensar a imagem de forma mais ampla nas diversas possibilidades que ela permite.

O "profissional" nao perde a sensibilidade. Ele se torna mais critico com o que ve, mais ativo na relaçao com o cinema, sem receber um filme de forma passiva, entendendo melhor, inclusive, o que lhe afeta.

A sensibilidade continua lá, mas fica mais apurada. Pode ate ser mais criteriosa (pq essa "profissionalizaçao" tb vem de uma bagagem maior nao so teorica, como tb de quantidade de filmes vistos), mas está la para outras expressoes artisticas dentro do proprio cinema.

No caso de Na Natureza Selvagem, eu gosto muito, mas convenhamos, tem uma sequencias em camera lenta que sao bregas pra caralho. E como diretor, o Sean Penn dirigiu tb um policial com Jack Nicholson chamado "A Promessa" (The Pledge - tem varios A Promessa por aí, eu acho). Tem na Canal 3. Mas ta longe de ser um policial comum, é denso, lento e pra baixo. Vale a pena.

Abraços!

Anonymous said...

Hélio, entendo perfeitamente que o olhar crítico vê além, e por causa disso, até com mais profundidade do que o olhar leigo. Certo dia, numa aula de crítica cinematográfica com a professora Marcele Khoury da UESB, ela confessou que depois de ter dominado as técnicas que possibilitam fazer uma crítica mais "profissional" ou embasada em técnicas, isso fez com que ela perdesse um pouco da inocência de antes, e sim, a fez analisar um filme com profundidade ao mesmo tempo que não consegue mais colocar o lado crítico técnico pra "dormir" e de vez em quando ver cenas "bregas" ou filmes com textos "simplórios" e ainda assim se sensibilizar.

A concepção de cinema tal qual a academia impõe, pra mim, é um atentado contra o que existe de "brega" e "simplório" em alguns filmes, e que justamente são elementos que fazem parte do todo que vai fazer com que o filme desperte emoçoes em quem assiste. No entanto, os críticos da academia, não poderão jamais sentir o que um simples "cinespectador leigo" sentirá.
Eu respeito os críticos profissionais, mas como entendo o cinema como arte, acho complicado quando tentam enquadrar arte dentro de padrões acadêmicos dissecando filmes como num laboratório. Em suma, EU, que não sou crítico de nada, optei em viver na ignorancia das leis que regem os critérios de determinação do que seja academicamente falando um bom filme. Optei por ser um ignorante dessas leis e apenas sentir e até viajar em mensagens que certos fimes passam, que de repente quem fez o filme, ou escreveu livro, jamais pensou em passar.
Abraços!

Hélio Flores said...

Mas conhecer a tecnica e a teoria nao é pra enquadrar arte nenhuma em padroes "academicos". Sim, isso ocorre bastante com muitos criticos profissionais, mas nao é algo que precisa acontecer necessariamente so pq vc deixou de ser "leigo".

O olhar apurado é pra o espectador ter um dialogo com aquela obra, ter uma participaçao ativa naquilo que esta vendo, saber pq aquilo mexe com ele e,principalmente, fazer parte do processo criativo da arte. Aquela coisa mesmo bem clichê da arte estar nos olhos de quem vê. Conhecer o processo é poder dar novos sentidos a obra (que como vc mesmo disse, originalmente pode nem ter passado pela cabeça de quem fez).

O olhar critico nao é pra nao se deixar levar por um filme. Do contrario, nenhum critico especializado elogiaria Spielberg, por exemplo, que é o mestre da manipulação. Sim, ser critico é perder a ingenuidade e considerar certas coisas como bregas ou simplorias. Mas o leigo tb pode achar algo brega simplesmente porque todo mundo tem sua concepção do que é ser brega.

E mais: eu posso achar algo brega e ainda assim me envolver e me sensibilizar com aquilo. A diferença, conhecendo teoria e tecnica, é que posso problematizar, discutir em cima disso.

É so pensar nos recursos que o telejornalismo tem utilizado na cobertura de grandes tragedias: entrevistas com as vitimas, uso de trilha sonora e montagem manipulativa, recorte sensacionalista, etc. Isso leva a emoçao milhares de brasileiros que simplesmente recebem a informaçao de forma passiva, sem capacidade de criticar, de perceber a manipulaçao, de pensar por si proprios. Se eu tenho recursos pra entender aquilo que to assistindo, posso transformar em discussao, fazer algo produtivo. E ainda assim posso me emocionar com a manipulaçao, mesmo sabendo do que se trata. Posso ate mesmo apreciar a "arte" da materia jornalistica pelo uso da musica certa, do tempo certo de duraçao de cada plano, da induçao de uma lagrima no momento exato, etc.

Em suma, o conhecimento teorico nao faz do critico um mala que quer dissecar uma obra, tal qual um cientista pretensamente objetivo. O que importa é o que ele faz com esse conhecimento junto a sua subjetividade, seus valores, e faz do filme que ve e escreve sobre, material para discussao, dialogar nao so com o que a obra em si traz, mas com o leitor da crítica. Ambos trazem elementos novos e enriquecem (ou evidenciam a pobreza) de uma obra.

Espero que nao tenha ficado confuso. To no banco, fingindo que to trabalhando, pra escrever isso aqui.

Abraços!

Hélio Flores said...

Ah, e quanto a preferir ficar na ignorancia, claro é uma opçao que a pessoa tem (embora ignorancia é um conceito discutivel, pq a medida que lemos, vemos, ouvimos e nos relacionamos, independente do que seja, a ignorancia vai ficando um tanto mais distante). Mas acho que a pessoa se torna um receptor daquilo, sentindo tudo a sua maneira, mas sem devolver nada em troca, sem possibilidade de enriquecer nada, e o pior: absorvendo o que lhe chega, ficando cada vez mais anestesiado.

Nao acho uma boa, nao. O que nao significa que o cara tem que se tornar expert em critica, tecnica, teoria e linguagem cinematografica.

Abraços!

Anonymous said...

Por essa analogia com as técnicas jornalísticas, eu entendi melhor o que voce quis dizer. No entanto isso ainda reforça mais minha opinião de que o cara que domina as técnicas do cinema fica mais insensível ( e isso não é uma crítica). Vamos usar seu exemplo das técnicas jornalística. Estes dias, devido ao horário de verão, sempre que almoço, ligo a TV e a única coisa mais próxima de um "jornalismo" que está passando é o programa "Que venha o povo" , uma espécie de clone do "Se liga Bocão". Aí passa uma cena de uma mãe com uma criança deficiente chorando pedindo ajuda, entra a música de fundo, o apresentador indignado, quase chorando junto, enfim... nada daquilo me comove, por que tenho as "manhas" de sacar que estão utilizando técnicas de manipulação. No entanto, voce há de entender, que seu eu fosse um leigo, lágrimas desceriam dos meus olhos. Acho que por esse exemplo deu pra deixar claro os nossos pontos de vista, não?

Ah, e vai trabalhar vagabundo...rs

Anonymous said...

Continuando... Eu me importo que o jornalismo que deverir ser algo sério e responsável seja transformado nesse show de horrores e palhaçadas que vemos aí pelas TV´s. Isso é danoso à sociedade. No entanto nao acho que um filme de quinta categoria, cheio de truques banais ou "bregas", para emocionar ,seja um perigo à sociedade (a não ser que seja um documentário).

Imagine toda a sociedade sendo crítica "profissional", não teríamos assistido RAMBO, Karate Kid, Ruas de Fogo e por aí vai...

Hélio Flores said...

Acontece, Caique, que no caso do exemplo jornalistico que vc deu (e eu nao conheço nem "Que Venha o Povo" e nem "Se Liga Bocão), o leigo vai se comover sem perceber que ha ali uma manipulação descarada de emoçoes. Nem vou entrar nas questoes morais e eticas desse tipo de coisa, que seria algo bem mais serio para lamentarmos a passividade dos que se comovem com esse tipo de materia.

O ponto que eu quero chegar é que um filme pode comover sem utilizar de artificios obvios (para os "entendidos"), faceis e comuns. Daí que a pessoa nao fica menos sensivel. A sensibilidade continua la.

A boa arte continua tocando os tais "especialistas", pq os recursos sao inumeros, pode haver sofisticaçao, criatividade e mesmo o posicionamento moral e etico do cineasta, que pode se conectar diretamente com os valores da pessoa/critico que assiste.

E filmes podem, sim, ser danosos a sociedade. Ou a questao nem seja essa, nao sei. Assim como uma materia repugnante nao traz perigo, é o conjunto que preocupa. Pq quando ha cada vez mais pessoas vendo apenas filmes de quinta categoria, e esses filmes sao a grande maioria nos nossos cinemas, pode ser visto como mais um sintoma de uma sociedade sem capacidade critica (que se estende para alem da arte, para as esferas politica, social, etc).

Isso sem contar na morte de outras expressoes artisticas dentro do proprio cinema, pois o gosto se torna globalizado, o olhar fica anestesiado, e quando aparece um filme de estetica e linguagem menos comum, as pessoas nao conseguem assimilar (e normalmente descartam como lixo).

Acho absurdo quando meios de comunicaçao sugerem que tal filme ou tal videogame influenciou tal adolescente a matar os amigos ou a familia. Mas acho que é essa incapacidade de julgar, criticar, discernir, relacionar, pensar por si proprio, que torna alguem tao influenciado.

Entao talvez nao seja o filme ou a materia jornalistica que seja um perigo. O perigo ta nesse "abraçar a ignorancia" que torna a pessoa um mero receptaculo que absorve o que lhe chega a retina.

E mesmo que toda a sociedade fosse "critica profissional", ainda haveria espaço para a subjetividade, opinioes e sensibilidades pessoais. Sim, continuaria havendo Rambo, Karate Kid e Ruas de Fogo. Filmes que, alias, comovem muita gente "entendida" que eu conheço. Pq nao é so pq o filme é "enlatado americano" (adoro os intelectuais que dispensam os filmes da terra do Obama com esse termo), que nao pode ser interessante, comovente, estimulador de discussao, divertido, etc. Há os bons e ruins em Hollywood. O dificil pras pessoas é saber argumentar sobre quem é quem.

Viajei demais? Ja saí do trabalho, por isso.

Abraços!