1/19/2006

Somos pequenos vermes

Digo sempre a alguns amigos que me inspiro na tristeza, na decepção, no desalento, na mediocridade humana e na minha própria pra poder postar neste blog. Posts estes que mais me servem como marcadores de ocasiões que um dia vou rememorar como num diário velho e encardido. Aqui, jaz tempos de alegrias e tristezas, claro, mais tristezas que alegrias. Aliás, a alegria é improdutiva. Pelo menos pra escrever. As músicas mais bonitas, os poemas mais profundos são frutos de momentos tristes. Mas porque chorar tristezas se estas nada dizem à maioria, acostumada as lamúrias alheias e as suas próprias? Apenas questão de "desopilar". Não me pergunte o que significa isso, na verdade o significado cabe perfeitamente neste contexto, porém o que mais importa é que acho esta uma palavra alegre. Desopilar, desopilei, desopile... sempre minha mente ri, quando pronuncia esta palavra (sim minha mente ri e pronuncia também).
Incrível como temos a capacidade de nos deslumbrar com o óbvio, com as coisas que estão sempre a nossa frente e ainda assim... ficamos embasbacados, chocados, atônitos e desiludidos. Isso serve tanto para as coisas boas quanto para as ruins. Não existe animal mais cruel que o ser humano. E não me refiro aos facínoras do nosso dia a dia que estupram criancinhas ou que põem fogo em ônibus público. Não. Mas aos estelionatários e traficantes da fé, aos que trancafiam mentes em cofres cujo as chaves nem mesmo eles se lembram onde guardaram, aos que usam o poder do conhecimento para dominar, humilhar, aos que se aproveitam da fraqueza alheia. Pense, nenhum aprisionamento é mais desumano, ultrajante do que o de mentes. Pior, quando o carcereiro de nossas mentes somos nós mesmos! Quando nos impomos a árdua tarefa de sempre separar o preto do branco, o certo do errado, o agora do nunca. Tem pessoas que precisam sempre de alguém que as oriente pra que elas saiam da zona cinza e escolha o preto ou o branco. Pra isso inventaram a religião, que cumpre bem esse papel.
Achava que fraqueza e crueldade não combinavam, que eram díspares, antagônicas. Não. Não são! Bicho, não são mesmo! Penso que a fraqueza é sempre momentânea e a crueldade inata, inerente ao bicho homem. A crueldade e suas vertentes... a crueldade inocente, a crueldade de quem quis "apenas ajudar", a crueldade de quem quis se vingar , a crueldade de quem não quis ser cruel e a pior de todas: a crueldade de quem não a enxerga em seus atos (todos nós).

Sou o que penso. Esta é a frase que coloquei no meu celular quando o ligo. Mas vou mudar. Estou o que penso. Mellhor assim. Hoje penso que sou o verme mais perfeito que permeia esta ferida purulenta. Ah! Ficou com nojo? Eu disse que sou o mais perfeito verme, isso pressupõe que todos os outros (que pode incluir você) são ainda piores que eu. Olho as pessoas trabalhando, nos pontos de ônibus, salas de aulas, shows... muitos vermes se mexendo, fervilhando, sorrindo e falando. Sim vermes tem uma vida em sociedade. No filme Matrix, o agente Smith compara o ser humano a um vírus. Eu comparo aos vermes. Vermes que procriam, que bebem, riem, vomitam, cagam, a até criam sites expondo fotos com cenas de coprofagia. Não é pejorativo, entenda, não é. Fico pensando o porquê de tanta desgraça no mundo, tanto lixo, tantas feridas e penso que a reposta é essa: vermes. Todas estas misérias humanas são alimento pra nós, ínfimos vermes. Mate um qualquer, corte sua cabeça e coloque em praça pública. Em minutos encherá de vermes... ou melhor, humanos para se "deliciarem" com aquele prato exposto. Não é curiosidade não, é fome de lixo. Nós vermes precisamos de carniça, precisamos da tristeza alheia, pois ela nos alimenta, alimenta nosso ego e nos faz sentir que estamos melhores. O câncer espalhado no corpo do próximo faz com que nós, vermes, fiquemos alegres (contentes) por não ser em nós. A dor na alma do outro, nos faz perceber nossa alegria de não estar na pele dele. Não adianta negar sua índole de verme. Como disse o poeta, "somos iguais em desgraça".

4 comentários:

Rafael Melo said...

Ufa!
Incisivo, cara!!!
"Nós vermes precisamos de carniça, precisamos da tristeza alheia, pois ela nos alimenta, alimenta nosso ego e nos faz sentir que estamos melhores."
Pqp, no coments!!!
Muito bom!
(crônica no melhor estilo da poesia de Augusto dos Anjos)

Anonymous said...

Oi Kaíque. Não concordo muito qdo diz q somos vermes (eca!), mas vc tem razão, estamos sempre "felizes" por ver q tem gente pior q nós... Infelizmente!
Seu texto está ótimo.
Abração.

Anonymous said...

vermes pra comer, vermes pra aoljar, destetamos os vermes, mas vivemos por eles, damos comidas a eles, eles nos dominam, realmente assim são os seres humnos, grandes vermes que n tem o que comer e por isso simplesmente exalam esta ânsia, e o pior são vermes que parecem falsos vermes.
Vermes por vermes, é um termo bem pejorativom as apropriado à radicalidade e à emoção de um momento, bom termo e bom texto, mas não é nada agradável...(risos)

Anonymous said...

Nunca mais tinha vindo aqui, já tava com saudade das suas coisas, suas palavras..mas virei sempre..te linkei lá no flog..faça o mesmo
beijos