E vez por outra, ou de quando em vez, como dizia uma antiga professora,
eu retorno ao porão dos sentimentos.
O porão dos sentimentos é um lugar escuro, a luz é fraca,
não permite ver muito além da penumbra.
Entro lá e me perco em sentimentos que foram eternos e que agora jazem abandonados como relíquias nesse porão. Alguns são eternos porque ainda existem, apenas estão adormecidos, desativados,
empoeirados... mas estão lá. Outros realmente estão extintos e apenas pairam como fantasmas, ora assombram,
ora sopram seu hálito gélido provocando calafrios na alma. O choro doído do menino que viu seu cãozinho correr e encontrar
a morte quando queria encontrar apenas um afago, a euforia de ir à escola, vivenciar as paixonites,
o desalento de não se ter o super-herói de carne e osso, cujo maior ato heróico seria a tão simples irradiaçao
dos super-ultra-protetores raios lasers emitidos pelo calor de um abraço, um afago. Tantas coisas "bobas" e que
nos marcam pro resto da vida.
E ainda passeando pelo porão, encontro, adormecida, a sede de se conhecer o que existe acima das nuvens, não os planetas,
estrelas e cometas, mas a força do Todo-Podero, Aquele de quem aprendemos (ou já nascemos sabendo?), desde pequenos,
que só gozaremos dos privilégios de Sua proteção se buscarmos a pureza, uma pureza impossível de ser alcançada
quando o corpo aprende (ou já nascemos sabendo?) a solicitar o prazer.. dos olhos, da mente, do tato, da carne...
Mas de tantos sentimentos, velhos, empoeirados, guardados, mortos, aquele que mais quero e me é tão caro,
não se encontra nesse porão, porque é guardado em lugar muito mais seguro, belo e inatingível, blindado pelo teu olhar de criança
o mesmo olhar que um dia, no afã de expressar em palavras toda a ternura que apenas a existência de um Deus pode explicar,
disse, "eu vou sentir sua saudade" , descontruindo as frias regras do português para traduzir numa sentença dúbia o que nem mesmo
ela saberia o significado. Sim, minha pequenina, vai sentir saudade de mim, mas jamais sentirá a minha saudade, pois a saudade
que sinto de você é tanta e imensa e forte e doída, que seria demais para seu coraçãozinho. E cada lágrima que derramei, sofrida,
fácil, não era a saudade se derretendo e diminuindo, mas sim gotas de amor que em mim é tanto e tão grande e tão intenso, que
mesmo se desmanchando em gotas e enxurradas ainda sobraria o suficiente pra mim, pra você e pro mundo.
E do que eu e todos nós vivemos, que não seja movido por sentimentos? Quer sejam sentimentos empoeirados, quer sejam
reciclados e transformados ou que brotaram de repente, o fato é que somos movidos a sentimentos, sejam eles os nobres, os pobres
intensos ou fulgazes... sempre sentimentos.
E saindo de dentro do porão, limpo meus sentimentos, um por um, e os trancafio novamente no lugar em que julgo ser seguro
pra eles, pra mim e pros outros. Vez por outra sei que retornarei para revisitá-los, pra sorver um pouco de vida deles, e quem
sabe um dia, compartilhá-los, somando, multiplicando e depois dividindo. E que dia vou aprender que sentimento nao se guarda,
mas se sente?
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Onde as mentes se libertam pra brincar...la rará, la, larará...
1 comentários:
Caralho Cá!!!
Você nunca pensou em ser escritor não?
Ou já é e usa algum tipo de pseudonimo?
Ave Maria que texto é esse meu sr?
Tô toda arrupiada
(sem esculhambação)
Muito Profundo.
E pra variar me indentifiquei e como você diz, vai ver é que nunca soube por no papel, como você faz!
Parabéns pelo talendo inquestionável, parabéns pelo seu aniverssário, parabéns por tudo nego!
Desejo que seja muito feliz,
não só hoje...sempre e não
esquece que te adoro!!!
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